Poucos contos e alguns trocados.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Tretas

Hoje eu li um texto de uma feminista rad em que ela questiona o movimento feminista que apoia as mulheres trans e a própria definição que ela recebe desse outro movimento, a palavra cis.

Cis é aquela pessoa cujo gênero se conforma com o sexo de nascimento - ou seja, uma mulher que nasceu com vagina ou um homem que nasceu com pênis. 

Para essa moça, mulher cis não tem nenhum privilégio perante as trans, porque somos, entre outras coisas, obrigadas à maternidade, ao trabalho doméstico, ao manter-se feminina e etc. As mulheres trans não são obrigadas a nada disso. Sua opressão se resume a ser um homem que não se adequa ao que se espera dele, em termos de gênero. 

As trans, por outro lado, querem ser consideradas mulheres e insistem que sofrem misoginia - principalmente porque vivem, em média, 30 anos a menos que as pessoas cis, entre outras coisas. As garotas que defendem essa corrente costumam criar treta com as rad.

O que eu queria dizer é: gurias, parem com essa competição de miss sofrência 2015. Somos todas oprimidas pelo patriarcado, que vai ser o único beneficiado com as dissensões dentro do feminismo. Não quero entrar no mérito de quem está mais certo, porque eu não me sinto nesse direito. Não quero ser nomeada a miss sofrência do ano, porque, principalmente, vejo garotas passarem por muitas coisas piores do que eu já passei - sem querer comparar sofrimentos, por que, afinal, cada um reage de uma maneira às coisas que vive. 

Acho que devíamos todas nos unirmos (todas mesmo - eu não gosto de usar a chamada "linguagem inclusiva" (tod@s, todxs, todes) porque concordo com a galera que diz que isso é academicista e nunca vai passar para a língua falada - incluindo aqui mulheres, mulheres trans, homens trans e quem mais o feminismo possa abarcar). Um bom exemplo é o movimento negro, que criou o termo "colorismo" para englobar todos os negros, independente do tom de pele. Assim, em vez de ficarem discutindo "sou mais negro que tu", todos se unem e o movimento fica mais forte. 

nota: o movimento anti-gordofobia devia fazer a mesma coisa. 

Agora, o que eu penso sobre pessoas trans: são, antes de tudo, pessoas, e devem ser respeitadas, independente de como escolham viver suas vidas. Não me custa nada chamá-las pelo pronome que lhes aprouver. E, claro, como muitas estão em situação de risco social, o Estado tem a obrigação de fazer programas de assistência - como a qualquer grupo marginalizado em situação de risco (não, evangélicos fundamentalistas que acham que estamos numa ditadura gay não estão inclusos). 

Enfim, isso aqui são mais divagações que qualquer outra coisa. Estou aberta ao diálogo - contanto que você também esteja -, principalmente com minas do movimento feminista. Se o que eu disse te ofendeu, por favor, me diz que eu mudo. 

Esse post foi escrito há uns bons meses já e eu andei me aprofundando mais no movimento rad, e estou cada vez mais concordando com elas. Vou aqui expor os meus (novos) pontos de vista.

Primeiro ponto: mulheres trans não sofrem misoginia. Porque a sociedade não as vê como mulheres, então não pode discriminá-las como mulheres. Explicando melhor: tu não sofre preconceito porque tu se sente da maneira x ou y, mas por como a sociedade te vê. A sociedade (não eu ou as feministas radicais) vê as mulheres trans como homens que não seguem o padrão imposto para o gênero, portanto vai tratá-las assim.

Segundo ponto: haver milhares de gêneros ou não haver nenhum daria no mesmo. Rads e transallys estão lutando pela mesma coisa, de jeitos diferentes.

Terceiro ponto: além da "autoidentificação de gênero", nada mais define uma pessoa como homem, mulher ou quaisquer outros gêneros, na teoria transally. Ou seja, outro dia me apareceu no facebook uma pessoa com um nome feminino, uma foto aparentemente feminina (seguindo os estereótipos de gênero feminino) e se dizendo trans. Eu pensei que era mulher trans, mas ela me diz que é um homem trans. Isso parece legal na teoria (afinal, não existem coisas de homem e coisas de mulher, nisso concordamos) mas, na prática, a coisa fica meio tensa. Esses dias aprovaram uma lei que permite às pessoas trans usarem o banheiro ao qual se identificam. Imaginem vocês que uma pessoa com pênis e completamente conformada com os estereótipos do gênero masculino chegue e diga "me identifico como mulher, portanto quero usar o banheiro feminino". Podemos deixar? Afinal, ela pode mesmo se identificar como mulher (como a pessoa que citei e que uma página transally estava achando linda).

Quarto ponto: eu acho errado chamar de transfóbicas lésbicas que não queiram se relacionar com mulheres com pênis. Afinal, empurrar pênis pra quem não o quer é (adivinhem!) estupro.

Quinto ponto: usar vestido, saia, maquiagem, batom, cílios postiços, brincar de boneca, bordar não são "coisas de mulher". São coisas que qualquer pessoa pode fazer. Não é porque um homem faz todas essas coisas que ele é uma mulher.

Sexto ponto: a socialização. Existe socialização masculina e socialização feminina, por isso que existem tantas diferenças comportamentais entre homens e mulheres. Por exemplo, velhos tarados (homens que, com a idade, perdem a noção do que é lícito fazer em sociedade) existem aos montes, mas não se fala de mulheres que façam a mesma coisa. Entre outros exemplos.

Sétimo ponto: gênero não é questão de autoidentificação. É como a sociedade nos classifica. E isso é extremamente limitador e opressor. Portanto, é melhor eliminar os gêneros de uma vez.

Por último, não mudei de ideia quanto a pessoas trans merecerem respeito e políticas públicas de assistência, pois muitas vivem em situação de risco social.

Enfim, acho que é isso. Não quero criar treta, mas é assim que eu penso.

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