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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Superstições

Superstição é uma coisa normalmente relacionada à ignorância (não ignorância no sentido de brutalidade, mas de falta de conhecimentos) e uma pessoa como eu, com curso superior e amplo acesso à leitura não deveria ter esse tipo de coisa. 

Mas eu tenho, por incrível que pareça. E eu acho que todo o mundo tem, de uma forma ou de outra. Acho que o ser humano tem inato o instinto do sobrenatural, afinal nenhuma cultura respondeu um foda-se para a famosa pergunta "qual a origem do universo?". Eles enterram seus mortos, cultuam deuses e antepassados, e todo esse tipo de coisa. 

Quando a gente se torna racional demais está negando esse instinto do sobrenatural e ele acaba dando um jeito de aflorar. 

Explico melhor: eu sou uma pessoa bem racional. Eu me incluiria, na verdade, numa categoria de homo dubitans. Eu não nego nem acredito em nada. Eu duvido de tudo (dubitans = que duvida). Deus existe? Não sei, quem sabe? A luz é onda ou partícula? Boa pergunta. Estamos mesmo vivos? Não sei, o que nós chamamos de universo pode ser só um breve pensamento de Deus e, nesse caso, a resposta é sim e não - ao mesmo tempo - ou essa vida pode ser a vida futura de algum universo paralelo e nós nascemos aqui quando morremos lá e vice-versa e, também nesse caso, a resposta é sim e não ao mesmo tempo!

Enfim. Sou dessas. Mas tem uma superstição que o meu consciente rejeita mas  em que alguma coisa dentro de mim acredita piamente. É o seguinte: nós temos uma "franquia de sorte" durante a nossa vida. Cada vez que acontece alguma situação em que temos sorte, um pouco da franquia se consome. Assim, se tu ganha na loteria, consome 100.000 créditos de sorte (dependendo o valor). Se perde o avião que vai cair,  é um milhão. Se acha 50 pila na rua, são 50 créditos, e por aí vai. 

Isso é absurdo, eu sei. Aliás, é o cúmulo do absurdo. Mas eu não consigo não acreditar. Me lembro que, um dia, eu tava andando embaixo de uma árvore, e caiu uma folha bem na minha frente (era uma folha meio grande). Na hora, eu pensei "pô, isso podia ter caído na minha cabeça e essa sorte ser guardada para quando um passarinho resolvesse cagar em cima de mim". É claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas eu não gosto de me inscrever em sorteios que eu não tenha muita vontade de ganhar, justamente pra não ganhar e não consumir minha cota de sorte. 

Tem outra coisa levemente bizarra em que eu acredito e que também vai nessa linha. Eu disse pra vocês que eu não sei se Deus existe, não disse? Pois a minha mãe tem certeza absoluta de que Ele existe e, como se isso não bastasse, ela fica rezando para pedir coisas insignificantes. Sumiu a chave? Reza pro Santo Antônio. Tá com dor de barriga? Reza. Aconteceu isso? Reza. E por aí vai. 

Mas tu não acredita, então não reza, né? Não é bem assim. Eu não acredito, mas também não nego. O que não quer dizer que eu reze. Eu sempre penso "vai que o santo existe mesmo, me atende e, com isso, eu venha a consumir minha franquia de pedidos com coisa inútil?"

Essa minha crença deve fazer um pouco mais de sentido porque justamente um dos mandamentos é "não falarás o santo nome de Deus em vão" no que eu acho que podem se incluir pedidos relativos a sumiços de chaves e coisas do tipo. 

Imagina a cena. Tu tá correndo risco de vida, aí reza e ouve uma voz do além "seu saldo é insuficiente pra completar esse pedido". E pior, não dá pra recarregar! Tu nunca mais vai poder pedir absolutamente nada! Isso, pra uma pessoa que tá acostumada a pedir tudo, deve ser horrível.

(Deve ter gente rindo - eu também riria - mas é muito sério. Eu realmente acredito nisso.)

E tu, tem alguma crença absurda/bizarra? Conta pra mim!

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